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Revolução Industrial

Contexto Histórico

 

Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual, no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam se organizar e dividir algumas etapas do processo, mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam muitas etapas do processo produtivo.

Com a Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão, perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro. Esses trabalhadores passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos dos meios de produção os quais passaram a receber todos os lucros.
 
De acordo com a teoria de Karl Marx, a Revolução Industrial, iniciada na Grã-Bretanha, integrou o conjunto das chamadas Revoluções Burguesas do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime, na passagem do capitalismo comercial para o industrial.
 
Com a evolução do processo, no plano das Relações Internacionais, o século XIX foi marcado pela hegemonia mundial britânica, um período de acelerado progresso econômico-tecnológico, de expansão colonialista e das primeiras lutas e conquistas dos trabalhadores. Durante a maior parte do período, o trono britânico foi ocupado pela rainha Vitória (1837-1901).
 

A Revolução Industrial ocorreu primeiramente na Europa devido a três fatores:

1) os comerciantes e os mercadores europeus detinham a confiança dos governantes quanto à manutenção da economia em seus estados;

2) a existência de um mercado em expansão para seus produtos, tendo a Índia, a África e a América sido integradas ao esquema da expansão econômica européia;

3) o contínuo crescimento de sua população, que oferecia um mercado sempre crescente de bens manufaturados, além de uma reserva adequada de mão-de-obra.

O Pioneirismo Britânico

 

O Reino Unido foi pioneiro no processo da Revolução Industrial por diversos fatores:

 

Pela aplicação de uma política econômica liberal desde o século XVIII. Anteriormente a entrada de novos competidores e a inovação tecnológica eram muito limitadas. Com a liberação da indústria e do comércio, ocorreu um enorme progresso tecnológico e um grande aumento da produtividade em um curto espaço de tempo.

A Grã-Bretanha firmou vários acordos comerciais vantajosos com outros países, além de possuir grandes reservas de ferro e de carvão mineral em seu subsolo, principais matérias-primas utilizadas neste período.

Dispunham de mão-de-obra em abundância desde a Lei dos Cercamentos de Terras, que provocou o êxodo rural. Os trabalhadores dirigiram-se para os centros urbanos em busca de trabalho nas manufaturas.

A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, adquirir matérias-primas e máquinas e contratar empregados.

 Liberalismo de Adam Smith

 

As novidades da Revolução Industrial trouxeram muitas dúvidas. O pensador escocês Adam Smith procurou responder racionalmente às perguntas da época. Seu livro A Riqueza das Nações (1776) é considerado uma das obras fundadoras da ciência econômica. Ele dizia que o individualismo é útil para a sociedade.

 

Portanto, seria correto afirmar que os capitalistas só pensam em seus lucros. Mas, para lucrar, têm que vender produtos bons e baratos. O que, segundo Smith, no fim, é ótimo para a sociedade.

Avanços Tecnológicos

O Motor a Vapor

As primeiras máquinas a vapor foram construídas na Inglaterra durante o século XVIII. Retiravam a água acumulada nas minas de ferro e de carvão e fabricavam tecidos.

 

Graças a essas máquinas, a produção de mercadorias aumentou muito. E os lucros dos burgueses donos de fábricas cresceram na mesma proporção. Por isso, os empresários ingleses começaram a investir na instalação de indústrias.

 

As fábricas se espalharam rapidamente pela Inglaterra e provocaram mudanças profundas. O modo de vida e a mentalidade de milhões de pessoas se transformaram, numa velocidade espantosa.

 

O mundo novo do capitalismo, da cidade, da tecnologia e da mudança incessante triunfou.

As carruagens viajavam a 12 km/h e os cavalos, quando se cansavam, tinham de ser trocados durante o percurso. Um trem da época alcançava 45 km/h e podia seguir centenas de quilômetros. Assim, a Revolução Industrial tornou o mundo mais veloz. Como essas máquinas substituíam a força dos cavalos, convencionou-se em medir a potência desses motores em HP (do inglês Horse Power ou Cavalo-Força).

Ordem Cronológica

 

Século XVII

1698 - Thomas Newcomen, em Staffordshire, na Grã-Bretanha, instala um motor a vapor para esgotar água em uma mina de carvão.

 

Século XVIII

1708 - Jethro Tull (agricultor), em Berkshire, na Grã-Bretanha, inventa a primeira máquina de semear puxada a cavalo, permitindo a mecanização da agricultura.

1709 - Abraham Darby, em Coalbrookdale, Shropshire, na Grã-Bretanha, utiliza o carvão para baratear a produção do ferro.

1733 - John Kay, na Grã-Bretanha, inventa uma lançadeira volante para o tear, acelerando o processo de tecelagem.

1740 - Benjamin Huntsman, em Handsworth, na Grã-Bretanha, descobre a técnica do uso de cadinho para fabricação de aço.

1761 - Abertura do Canal de Bridgewater, na Grã-Bretanha, primeira via aquática inteiramente artificial.

1764 - James Hargreaves, na Grã-Bretanha, inventa uma máquina de fiar rotativa que permitia fiar oito fios de uma só vez.

1765 - James Watt, na Grã-Bretanha, introduz o condensador na máquina de Newcomen, componente que aumenta consideravelmente a eficiência do motor a vapor.

1768 - Richard Arkwright, na Grã-Bretanha, inventa a "spinning-frame", uma máquina de fiar mais avançada que a inventada por Hargreaves em 1764.

1771 - Richard Arkwright, em Cromford, Derbyshire, na Grã-Bretanha, introduz o sistema fabril em sua tecelagem.

1776 - 1779 - John Wilkinson e Abraham Darby, em Ironbridge, Shrobsihire, na Grã-Bretanha, constroem a primeira ponte em ferro fundido.

1779 - Samuel Crompton, na Grã-Bretanha, inventa a "spinning mule", permitindo produzir fios mais finos e resistentes, sendo capaz de fabricar tanto tecido quanto duzentos trabalhadores, utilizando apenas alguns deles como mão-de-obra.

1780 - Edmund Cartwright, de Leicestershire, na Grã-Bretanha, patenteia o primeiro tear a vapor.

1793 - Eli Whitney, na Geórgia, Estados Unidos, inventa o descaroçador de algodão.

1800 - Alessandro Volta, na Itália, inventa a bateria elétrica.

 

Século XIX

1803 - Robert Fulton desenvolve uma embarcação a vapor na Grã-Bretanha.

1807 - A iluminacão de rua, a gás e´ instalada em Pall Mall, Londres, na Grã-Bretanha.

1808 - Richard Trevithick expõe a "London Steam Carriage", um modelo de locomotiva a vapor, em Londres, na Grã-Bretanha.

1825 - George Stephenson conclui uma locomotiva a vapor, e inaugura a primeira ferrovia, entre Darlington e Stockton-on-Tees, na Grã-Bretanha.

1829 - George Stephenson vence uma corrida de velocidade com a locomotiva "Rocket", na linha Liverpool - Manchester, na Grã-Bretanha.

1830 - A Bélgica e a França iniciam as respectivas industrializações.

1843 - Cyrus Hall McCormick patenteia a segadora mecânica, nos USA.

1844 - Samuel Morse inaugura a primeira linha de telégrafo, de Washington a Baltimore, nos Estados Unidos.

1856 - Henry Bessemer patenteia um novo processo de produção de aço que aumenta a sua resistência e permite a sua produção em escala verdadeiramente industrial.

1865 - O primeiro cabo telegráfico submarino é estendido através do leito do oceano Atlântico, entre a Grã-Bretanha e USA.

1869 - A abertura do Canal de Suez reduz a viagem marítima entre a Europa e a Ásia para apenas seis semanas.

1876 - Alexander Graham Bell inventa o telefone nos USA (em 2002 o italiano Antonio Meucci foi reconhecido como legítimo inventor do telefone).

1877 - Thomas Alva Edison inventa o fonógrafo nos Estados Unidos.

1879 - A iluminação elétrica é inaugurada em Mento Park, New Jersey, nos Estados Unidos.

1885 - Gottlieb Daimler inventa um motor a explosão.

1895 - Guglielmo Marconi inventou a radiotelegrafia na Itália.

Industrialização da Europa Continental e a Expansão Pelo Mundo

 

Até 1850, a Inglaterra continuou dominando o primeiro lugar entre os países industrializados.

 

Na Europa, os maiores centros de desenvolvimento industrial, eram as regiões mineradoras de carvão; lugares como o norte da França, nos vales do Rio Sambre e Meuse, na Alemanha, no vale de Ruhr, e também em algumas regiões da Bélgica.

 

Fora estes lugares, a industrialização ficou presa às principais cidades, como Paris e Berlim; aos centros de interligação viária, como Lyon, Köln, Frankfurt am Main, Cracovia e Warsaw; aos principais portos, como Hamburgër, Bremen, Roterdan, Le Havre, Marseille; a pólos têxteis, como Lille, Região do Ruhr, Roubaix, Barmen-Elberfeld (Wuppertal), Chemmitz, Lodz e Moscow e a distritos siderúrgicos e indústria pesada, na bacia do rio Loire, do Sarre, e da Silésia.

Após 1830, a produção industrial se descentralizou da Inglaterra e se expandiu rapidamente pelo mundo, principalmente para o noroeste europeu, e para o leste dos Estados Unidos. Porém, cada país se desenvolveu em um ritmo diferente baseado nas condições econômicas, sociais e culturais de cada lugar.

 

Na Alemanha pós guerra Franco-Prussiana, Bismarck impulsionou a Revolução Industrial no país que já estava ocorrendo desde 1815. Foi a partir dessa época que a produção de ferro fundido começou a aumentar de forma exponencial.

 

Na Itália unificada politicamente em 1870, a industrialização do país só atingiu ao norte, pois o sul continuou basicamente agrário.

 

Muito mais tarde, começou a industrialização na Rússia, nas últimas décadas do século XIX, graças grande disponibilidade de mão-de-obra e a intervenção governamental na economia.

Já no Japão, a industrialização data do início da era Meiji, em 1867, quando a superação do feudalismo unificou o país. A propriedade privada foi estabelecida e a autoridade política foi centralizada possibilitando a intervenção estatal do governo central na economia, o que resultou no subsidio a indústria. E como a mão-de-obra ficou livre dos senhores feudais, ocorreu assimilação da tecnologia ocidental.

 

Nos USA, a industrialização total ocorreu somente após a Guerra da Secessão, atraso que pode ser explicado pelo excesso de terra per capita, que causava uma vantagem comparativa na agricultura em relação à indústria. Além disso, somente com o término do conflito houve a abolição da escravatura nos estados sulistas, o que elevou a produtividade da mão de obra, aumentando a velocidade de acumulação de capital e incentivando a industrialização.

Efeitos Sociais

 

Na esfera social, o principal desdobramento da Revolução Industrial foi a transformação nas condições de vida nos países industriais em relação aos outros países da época, havendo uma mudança progressiva das necessidades de consumo da população, à medida que novas mercadorias foram sendo produzidas.

 

A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, criando enormes concentrações urbanas. A população de Londres passou de 800.000 habitantes em 1780 para mais de 5 milhões em 1880, por exemplo.

No início da Revolução Industrial, os operários viviam em péssimas condições de vida e trabalho. O ambiente das fábricas era insalubre, assim como os cortiços onde muitos trabalhadores viviam. A jornada de trabalho chegava a 80 horas semanais, e os salários variavam em torno de 2,5 vezes o nível de subsistência. Para mulheres e crianças, submetidos ao mesmo número de horas e às mesmas condições de trabalho, os salários eram ainda mais baixos.

 

A produção em larga escala e dividida em etapas iria distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores passava a dominar apenas uma etapa da produção, mas sua produtividade ficava maior.

Sindicalismo

 

Os empregados das fábricas formaram associações e sindicatos, a princípio proibidos e duramente reprimidos, durante a Primeira Revolução Industrial. Na segunda metade do século XIX, a organização dos trabalhadores assume um considerável nível de ideologização.

O sindicalismo na virada do século XX é caracterizado por veleidades revolucionárias e de independência em relação aos partidos políticos.

 

Após a Primeira Guerra Mundial, uma parte dos sindicatos se alinha ao ideário socialista e comunista, enquanto outra parte se inclina para o reformismo ou para a tradição cristã. Em 1919 é criada a Organização Internacional do Trabalho, um dos mais antigos organismos internacionais, composta por representantes dos governos, dos trabalhadores e dos empregadores.

Movimento Ludista (1811-1812)

 

Reclamações contra as máquinas inventadas após a revolução para poupar a mão-de-obra já eram normais. Mas foi em 1811 o estopim estourou e surgiu o movimento ludista, uma forma mais radical de protesto. O nome deriva de Ned Ludd, um de seus líderes. Os luditas chamaram muita atenção pelos seus atos, invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo os próprios eram mais eficientes que os homens, tirando seus trabalhos e requerendo, contudo, duras horas de jornada de trabalho. Os manifestantes sofreram uma violenta repressão, foram condenados à prisão, à deportação e até à forca.

Anos depois os operários ingleses mais experientes adotaram métodos mais eficientes de luta, como a greve e o movimento sindical.

 

Movimento Cartista (1837-1848)

 

O "movimento cartista" foi organizado pela Associação dos Operários, exigindo melhores condições de trabalho.

Este movimento lutou ainda pela instituição de novos direitos políticos, como o estabelecimento do sufrágio universal, a extinção da exigência de posse de propriedades para ser eleito para o parlamento e o fim do voto censitário. Esse movimento se destacou por sua organização e por sua forma de atuação, chegando a conquistar diversos direitos políticos para os trabalhadores.

Consequências

 

A partir da Revolução Industrial o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca de trabalho. As fábricas passaram a concentrar centenas de trabalhadores, que vendiam a sua força de trabalho em troca de um salário.

 

Outra consequência da Revolução Industrial foi o rápido crescimento econômico e populacional. Antes dela, o progresso econômico era sempre lento e após, a renda per capita e a população começaram a crescer de forma acelerada nunca antes vista na história.

 

A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populações dos países que se industrializaram. As cidades atraíram os camponeses e artesãos, e se tornaram cada vez maiores e mais importantes.

 

Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeira vez em um grande país, havia mais pessoas vivendo em cidades do que no campo. Nas cidades, as pessoas mais pobres se aglomeravam em subúrbios de casas velhas e desconfortáveis, com condições horríveis de higiene e salubridade. Mas representavam uma grande melhoria se comparadas às condições de vida dos camponeses, que viviam em choupanas de palha. Convivia-se com a falta de água encanada, com os ratos e o esgoto formando riachos nas ruas esburacadas.

 

A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes. A cada instante, surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos e novas modas.

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