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Primeira Guerra Mundial - 28 de julho de 1914 - 11 de novembro de 1918

 

Período Pré-Guerra

Corrida Armamentista

 

O poder industrial e econômico dos alemães havia crescido muito depois da unificação e da fundação do império em 1871. Desde meados da metade dos anos 1890, o governo  de Guilherme II dedicou significativos recursos econômicos para a edificação do Kaiserliche Marine (Marinha Imperial Alemã), criada pelo almirante Alfred von Tirpitz, em rivalidade com a Marinha Real Britânica na supremacia naval mundial. Como resultado, cada nação se esforçou a equiparar-se ao outro em termos de navais. Com o lançamento do HMS Dreadnought em 1906, o Império Britânico expandiu a sua vantagem sobre seu rival alemão.

 

A corrida armamentista entre Reino Unido e Alemanha, eventualmente ampliada ao resto da Europa, com todas as grandes potências dedicando a sua base industrial para produzir o equipamento e as armas necessárias para um conflito pan-europeu. Entre 1908 e 1913, os gastos militares das potências europeias aumentaram em 50%.

Enfraquecimento de Acordos de Paz

 

A Áustria-Hungria precipitou a crise bósnia de 1908-1909 por anexar oficialmente o antigo território otomano da Bósnia e Herzegovina, que ocupava desde 1878. Isto irritou o Reino da Sérvia e seu patrono, o pan-eslavo e ortodoxo Império Russo. A manobra política russa na região desestabilizou os acordos de paz, que já estavam enfraquecidos, no que ficou conhecido como "o barril de pólvora da Europa".

 

Em 1912 e 1913, a Primeira Guerra Balcânica foi travada entre a Liga Balcânica e o fragmentado Império Otomano. O Tratado de Londres resultante ainda encolheu o Império Otomano, com a criação de um Estado independente albanês, enquanto ampliou as explorações territoriais da Bulgária, Sérvia, Montenegro e Grécia.

 

Quando a Bulgária atacou a Sérvia e a Grécia em 16 de junho de 1913, ela perdeu a maior parte da Macedônia à Sérvia e Grécia e Dobruja do Sul para a Romênia durante a Segunda Guerra Balcânica, desestabilizando ainda mais a região.

Crise de Julho

 

Em 28 de junho de 1914, Gavrilo Princip, um estudante sérvio-bósnio, assassinou o herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque Franz Ferdinand da Áustria, em Sarajevo, na Bósnia. Isto iniciou um mês de manobras diplomáticas entre Áustria-Hungria, Alemanha, Rússia, França e Reino Unido, no que ficou conhecido como a Crise de Julho.

 

Querendo finalmente acabar com a interferência sérvia na Bósnia a Áustria-Hungria entregou o Ultimato de Julho para a Sérvia, uma série de dez reivindicações com a intenção de provocar uma guerra com a Sérvia. Quando a Sérvia concordou com apenas oito das dez reivindicações, a Áustria-Hungria declarou guerra ao país em 28 julho de 1914.

 

O Império Russo, disposto a permitir que a Áustria-Hungria eliminasse a sua influência nos Balcãs e em apoio aos seus sérvios protegidos de longa data, ordenou uma mobilização parcial um dia depois. O Império Alemão mobilizou-se em 30 de julho de 1914, pronto para aplicar o "Plano Schlieffen", que planejava uma invasão rápida e massiva à França para eliminar o exército francês e, em seguida, virar a leste contra a Rússia. 

O gabinete francês resistiu à pressão militar para iniciar a mobilização imediata e ordenou que suas tropas recuassem 10 km da fronteira, para evitar qualquer incidente. A França só se mobilizou na noite de 2 de agosto, quando a Alemanha invadiu a Bélgica e atacou tropas francesas. O Império Alemão declarou guerra à Rússia no mesmo dia. O Reino Unido declarou guerra à Alemanha em 4 de agosto de 1914, após uma "resposta insatisfatória" para o ultimato britânico de que a Bélgica deveria ser mantida neutra.

A Guerra

 

Após a rejeição do Ultimato de Julho o Império Austro-Húngaro cortou todas as relações diplomáticas com o país e declarou guerra ao mesmo em 28 de Julho, começando o bombardeio a Belgrado (capital sérvia) em 29 de Julho. No dia seguinte, o Império Russo, que sempre tinha sido aliado da Sérvia, deu a ordem de locomoção a suas tropas.

 

O Início dos Confrontos

 

Algumas das primeiras hostilidades de guerra ocorreram no continente africano e no oceano Pacífico, nas colônias e territórios das nações europeias. Em Agosto de 1914, um combinado da França e do Império Britânico invadiu o protetorado alemão da Togoland, no Togo.

 

Pouco depois, em 10 de Agosto, as forças alemãs baseadas na Namíbia atacaram a África do Sul, que pertencia ao Império Britânico. Em 30 de Agosto a Nova Zelândia invadiu a Samoa, da Alemanha; em 11 de Setembro a Força Naval e Expedicionária Australiana desembarcou na ilha de Neu Pommern, que fazia parte da chamada Nova Guiné Alemã.

 

O Japão invadiu as colônias micronésias e o porto alemão de abastecimento de carvão de Qingdao na península chinesa de Shandong. Com isso, em poucos meses, a Tríplice Entente tinha dominado todos os territórios alemães no Pacífico. Batalhas esporádicas, porém, ainda ocorriam na África.

 

Na Europa, o Império Alemão e o Império Austro-Húngaro sofriam de uma mútua falta de comunicação e desconhecimento dos planos de cada exército. A Alemanha tinha garantido o apoio à invasão austro-húngara à Sérvia, mas a interpretação prática para cada um dos lados tinha sido diferente.

 

Os líderes austro-húngaros acreditavam que a Alemanha daria cobertura ao flanco setentrional contra a Rússia. A Alemanha, porém, tinha planejado que o Império Austro-Húngaro focasse a maioria de suas tropas na luta contra a Rússia enquanto combatia a França na Frente Ocidental. Tal confusão forçou o exército Austro-Húngaro a dividir suas tropas. Mais da metade das tropas foi combater os russos na fronteira, enquanto um pequeno grupo foi deslocado para invadir e conquistar a Sérvia.

A Batalha da Sérvia

 

O exército sérvio submeteu-se a uma estratégia defensiva para conter os invasores austro-húngaros, o que culminou na Batalha de Cer. Os sérvios ocuparam posições defensivas no lado sul do rio Drina. Nas duas primeiras semanas os ataques austro-húngaros foram repelidos causando grandes perdas ao exército das Potências Centrais.

 

Essa foi a primeira grande vitória da Tríplice Entente na guerra. As expectativas austro-húngaras de uma vitória fácil e rápida não foram realizadas e como resultado o Império Austro-Húngaro foi obrigado a manter uma grande força na fronteira sérvia, enfraquecendo as tropas que batalhavam contra a Rússia na Frente Oriental.

 

Exército Alemão na Bélgica e na França

 

Após invadir o território belga, o exército alemão logo encontrou resistência na fortificada cidade de Liège. Apesar do exército ter continuado a rápida marcha rumo à França, a invasão germânica tinha provocado a decisão britânica de intervir em ajuda a Tríplice Entente.

 

Como signatário do Tratado de Londres, o Império Britânico estava comprometido a preservar a soberania belga. Para a Grã-Bretanha os portos de Antuérpia e Oostende eram importantes demais para cair nas mãos de uma potência continental hostil ao país.25 Para tanto, enviou um exército para a Bélgica, atrasando o avanço alemão.

 

Inicialmente os mesmos tiveram uma grande vitória na Batalha das Fronteiras (14 de agosto a 24 de agosto de 1914). A Rússia, porém, atacou a Prússia Oriental, o que obrigou o deslocamento das tropas alemãs que estavam planejadas para ir a Frente Ocidental. A Alemanha derrotou a Rússia em uma série de confrontos chamados da Segunda Batalha de Tannenberg (17 de agosto a 2 de setembro de 1914).

 

O deslocamento imprevisto para combater os russos, porém, acabou permitindo uma contra-ofensiva em conjunto das forças francesas e inglesas, que conseguiram parar os alemães em seu caminho para Paris, na Primeira Batalha do Marne (Setembro de 1914), forçando o exército alemão a lutar em duas frentes. O mesmo se postou numa posição defensiva dentro da França e conseguiu incapacitar permanentemente 230.000 franceses e britânicos.

A Guerra das Trincheiras

 

Os avanços na tecnologia militar significaram na prática um poder de fogo defensivo mais poderoso que as capacidades ofensivas, tornando a guerra extremamente mortífera. O arame farpado era um constante obstáculo para os avanços da infantaria; a artilharia, muito mais letal que no século XIX, armada com poderosas metralhadoras.

 

Os alemães começaram a usar gás tóxico em 1915, e logo depois, ambos os lados usavam da mesma estratégia. Nenhum dos lados ganhou a guerra pelo uso de tal artifício, mas eles tornaram a vida nas trincheiras ainda mais miserável tornando-se um dos mais temidos e lembrados horrores de guerra.

 

A alimentação era sobretudo à base de carne, vegetais enlatados e biscoitos, sendo os alimentos frescos uma raridade.

Fim da Guerra

 

A partir de 1917, a situação começou a alterar-se, quer com a entrada em cena de novos meios, como o carro de combate e a aviação militar, quer com a chegada ao teatro de operações europeu das forças norte-americanas ou a substituição de comandantes por outros com nova visão da guerra e das tácticas e estratégias mais adequadas; lançam-se, de um lado e de outro, grandes ofensivas, que causam profundas alterações no desenho da frente, acabando por colocar as tropas alemãs na defensiva e levando por fim à sua derrota.

 

É verdade que a Alemanha adquire ainda algum fôlego quando a revolução estala no Império Russo e o governo bolchevista, chefiado por Lênin, prontamente assina a paz sem condições, (Tratado de Brest-Litovski) assim anulando a frente leste, mas essa circunstância não será suficiente para evitar a derrota. O armistício que pôs fim à guerra foi assinado a 11 de novembro de 1918.

Consequências

 

Efeitos Sócio-Econômicos

 

Nenhuma outra guerra mudou o mapa da Europa de forma tão dramática. Quatro impérios desapareceram após o fim do conflito: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Otomano e o Russo. Quatro dinastias, juntamente com as aristocracias que as apoiavam, caíram após a guerra: os Hohenzollern, os Habsburgos, os Romanov e os Otomanos.

 

Países como a Bélgica e a Sérvia passaram por destruições severas, assim como a França, que perdeu 1,4 milhão de soldados, sem contar as vítimas civis. A Alemanha e Rússia foram igualmente afetadas.

 

A guerra teve consequências econômicas profundas. Dos 60 milhões de soldados europeus que foram mobilizados entre os anos de 1914 e 1918, 8 milhões foram mortos, 7 milhões foram incapacitados de maneira permanente e 15 milhões ficaram gravemente feridos. A Alemanha perdeu 15,1% de sua população masculina ativa, a Áustria-Hungria perdeu 17,1% e a França perdeu 10,5%.29. Até o final da guerra, a fome matou cerca de 100 mil pessoas no Líbano. 

As estimativas mais confiáveis sobre o número de vítimas da fome russa de 1921, apontam a morte de entre 5 e 10 milhões de pessoas. Por volta de 1922, havia entre 4,5 milhões e 7 milhões de crianças de rua na Rússia, como resultado de quase uma década de devastações causadas pela Primeira Guerra Mundial, pela Guerra Civil Russa e pela crise de fome subsequente, entre 1920 e 1922.

 

Na Austrália, os efeitos da guerra sobre a economia não foram menos graves, tendo recebido 5.571.720 de libras esterlinas como forma de reparar os danos causados pela guerra, mas o custo direto da guerra para os australianos foi de 376.993.052 libras esterlinas e, em meados da década de 1930, as pensões de repatriação, gratificações de guerra, juros e encargos de naufrágio eram de 831.280.947 de libras.

 

Doenças floresceram nas condições caóticas da guerra. Apenas em 1914, piolhos infectados pelo tifo epidêmico mataram 200 mil pessoas na Sérvia. Entre 1918 e 1922, a Rússia tinha cerca de 25 milhões de infecções e 3 milhões de mortes por tifo.

 

Considerando que antes da Primeira Guerra Mundial a Rússia registrava cerca 3,5 milhão de casos da malária, após o conflito seu povo sofreu com mais de 13 milhões de casos em 1923. Além disso, a grande epidemia de gripe em 1918 se espalhou pelo mundo. No geral, a pandemia de gripe espanhola matou ao menos 50 milhões de pessoas.

Tratados de Paz e Fronteiras Nacionais

 

Após a guerra, a Conferência de Paz de Paris, em 1919, impôs uma série de tratados de paz às Potências Centrais, terminando oficialmente com a guerra. O Tratado de Versailles de 1919 lidou com a Alemanha e, com base nos Quatorze Pontos do então presidente norte-americano, Woodrow Wilson, trouxe à existência a Liga das Nações em 28 de junho de 1919.

 

Ao assinar o tratado, a Alemanha reconheceu "toda a perda e danos a que os Aliados, os governos associados e seus nacionais foram submetidos como consequência da guerra imposta sobre eles pelas agressões da Alemanha e de seus aliados".

 

Os tratados da Conferência de Paz de Paris também impuseram às nações derrotadas o pagamento de reparações aos vencedores. O Tratado de Versailles causou um enorme sentimento de amargura no povo alemão, que os movimentos nacionalistas, especialmente os nazistas, exploraram com uma teoria de conspiração que chamaram de Dolchstoßlegende (a "Lenda da Punhalada pelas Costas").

 

A Áustria-Hungria foi dividida em vários Estados sucessores (como a Áustria, a Hungria, a Tchecoslováquia e a Iugoslávia), que foram em grande parte, mas não totalmente, definidos por grupos étnicos. A Transilvânia foi transferida da Hungria para a Romênia Maior.

 

O Império Russo, que havia se retirado da guerra em 1917, após a Revolução de Outubro, perdeu grande parte de sua fronteira ocidental e as nações recém-independentes da Estônia, Finlândia, Letônia, Lituânia e Polônia foram esculpidos a partir dela. A Bessarábia foi re-anexada à Romênia Maior, uma vez que tinha sido um território romeno por mais de mil anos.

 

O Império Otomano se desintegrou e muito do seu território fora da Anatólia foi tomado por várias potências aliadas como protetorados. O núcleo turco foi reorganizada como a República da Turquia. O Império Otomano deveria ter sido dividido pelo Tratado de Sèvres, em 1920, mas este tratado nunca foi ratificado, levando à guerra de independência turca.

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