Coluna do Autor
J. Frederic
Sumário
I – Introdução
II – Interesses desfavoráveis ao bem-comum
III – As Mazelas da Educação Pública
IV – As Mazelas da estrutura Midiática
V – As Mazelas do entretenimento Midiático
I
Introdução
As características mais relevantes que definem um modo de produção são as circunstâncias em que se encontram o estado e os meios de produção de uma nação.
Em um regime comunista, ambos, a organização estatal e os meios de produção estão coletivizados, ou seja, pertencem e são administrados por todos. Ora, tornar essa coletivização em realidade seria muito difícil até mesmo para uma civilização supra desenvolvida e na prática, em todos os países comunistas, o estado passou a ser administrado por uma minoria e tornou-se tão ou ainda mais burocrático e mazelado do que qualquer estado seguidor do modo de produção opositor, o regime capitalista.
No capitalismo, por natureza os meios de produção (exceto as empresas estatais) são de propriedade individual. O principal problema que o capitalismo pode apresentar é o mau desempenho das funções públicas pelos governantes devido aos seus interesses em comum com empresas privadas. Esse fato abre espaço para a ocorrência do “capitalismo predatório”, que significa principalmente, que dentro do mercado econômico, as grandes empresas tendem a suprimir as organizações menores.
Sendo impossível que todos os cidadãos de um país possam administrar o estado, a minoria eleita tem a obrigação de governar em favorecimento do bem comum, e não fazê-lo de acordo com interesses pessoais ou de um determinado grupo.
É, pois, os “interesses com os quais são governadas as nações” o tema dos textos a seguir.
II
Interesses desfavoráveis ao bem-comum
Há um fato comum a quase totalidade dos países do mundo, o qual será aqui analisado: cada grupo que almeja e consegue obter o poder estatal, utiliza-o, sobretudo de forma egoísta, utilizando o poder político-governamental de maneira que seus interesses prevaleçam.
A maioria dos países, comunistas ou capitalistas, são indiferentes ao capitalismo predatório, estão inseridos em relação de dominação ou exploração com outros blocos de países e é comum a falta de preocupação com o bem comum e a incompetência governamental é uma regra ou no mínimo um artifício de manobras inapropriadas a um governo correto.
Os interesses por parte de um governo que são visivelmente prejudiciais a sociedade ou a um determinado grupo e ao mesmo tempo passíveis de observação e análise são, principalmente:
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A continuidade de todas as superestruturas que mantêm um grupo político ligado ao governo; Os administradores não se importam em sanar as dificuldades da área educacional e recusa-se a corrigir as falhas da máquina pública.
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Favorecimento de grandes corporações e multinacionais que promovem o capitalismo predatório, com as quais o grupo forma alianças de cooperação mútua; No Brasil, este é um ponto controverso segundo o qual muito se têm debatido. Certos políticos e analistas defendem o fim dos financiamentos privados de campanhas eleitorais, argumentando que as grandes empresas do setor privado tornam o grupo vencedor do pleito refém de pactos da época eleitoral.
Aqueles que se contrapõem a esse ponto de vista argumentam que a prática do financiamento público de empreitadas eleitorais daria margem à corrupção por parte dos partidos.
O ideal seria que a cada um dos partidos fosse proibido qualquer financiamento, seja público ou privado e se limitasse à utilização do milionário fundo partidário, e aproveitasse os espaços gratuitos nos meios de comunicação.
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No caso dos países mais desenvolvidos, a continuidade de sua dominação sobre os países subdesenvolvidos; É um fato notório que os países desenvolvidos influenciam amplamente as áreas econômicas, política e cultural das demais nações. Essa influência é muito interessante, mas sobretudo, lucrativa ao bloco central de nações, que assim mantêm seu predomínio sobre os estados periféricos.
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A Continuidade de um mesmo grupo político no poder por longos períodos; Mesmo que um governo seja absolutamente ineficiente, pode manter-se no poder através da utilização de inúmeras artimanhas, que tem por objetivo embair a população a respeito de suas competências. Entre os ardis comumente usados pelos governos estão, a condição arcaica do ensino público, o marketing governamental, a maquiagem das contas públicas, a velha e famigerada política do pão e circo, dentre inúmeras outras formas.
III
As Mazelas da Educação Pública
A principal artimanha que um governo impõe e que gera ou dá possibilidade a todas as outras falcatruas e mazelas do estado, das corporações e da mídia é o aparelhamento da educação pública.
Trata-se de um aparelho ideológico fundado nas raízes da escola moderna, criada durante a reforma iluminista que sucumbiu ao poder dos interesses seculares. Ao assumir o poder na França e mais tarde, nos demais países europeus, os governos moldaram o ensino segundo seus próprios interesses que eram e continuam sendo, a produção de homens e mulheres dóceis e alienados às ambições e mazelas da conjuntura política instituída. Não importa a ideologia defendida pelo governo instituído, a escola sempre é utilizada para inculcar valores equivocados.
A forma mais perceptível de distorção da educação é a adoção de um ensino propositalmente defeituoso e em alguns casos, tendencioso, através de um currículo meramente protocolar, uma mera "burocracia" na vida do aluno.
Para alguns estudiosos este aparelhamento ideológico da educação se dá de uma maneira muito mais sutíl, através do que chamam de “matriz comportamental”. Essa diretriz “educacional” pressupõe que a aprendizagem se processa através de estímulos que determina, basicamente, a aprendizagem dos alunos, aos quais são transmitidos determinados conteúdos. Os processos que caracterizam esta diretriz são de imitação e repetição. Conforme o estímulo, assim também a resposta. Os estímulos positivos fazem com que o aluno reproduza o que o aluno sugere e seja levado a repeti-lo. Os estímulos negativos fazem com que o aluno suprima o comportamento considerado negativo.
Os professores são levados a exigir que os alunos reproduzam e repitam o que lhes é pedido. Desta forma, a escola torna-se um mero forno de cidadãos dóceis, incapazes de questionar o que lhes é imposto. A teoria didática subjacente à matriz de condicionamentos trata as pessoas como objetos que devem ser educados, padronizadamente, dentro de um saber absoluto, transmissível do mesmo modo.
Indubitavelmente, a educação pública no Brasil vem sucedendo-se de forma muito equivocada.
O ideal consiste em um ensino que promova e esclareça aos alunos a realidade sociológica do mundo, a cultura, as artes, a história humana e sua civilização, além do saber científico e matemático necessário à compreensão da vida.
O que ocorre na realidade é que o aluno, subestimado, é sujeito a uma padrão e normatizada educação provinda de um sistema educacional falido e malsucedido em seu objetivo que em tese consiste no ensino de diferentes ciências através do saber racional.
Assim, ao invés de saírem da escola esclarecidos pelas luzes da razão, os estudantes brasileiros exclusivamente passam por um reles procedimento que falha em suas finalidades, levando-os a permanecer habitando eternamente os nefandos ergástulos da ignorância.
Esses fatos são responsáveis pela situação calamitosa da música e da mídia brasileira e mundial. A ignorância da população permite aos meios de comunicação o estabelecimento da indústria musical que cada vez mais contamina o meio artístico com suas práticas mercadológicas e intelectualmente indigentes.
IV
As Mazelas da estrutura Midiática
Quando imagino uma mídia ideal, uma estrutura midiática exemplar, digo, considero aquele que deveria ser o pilar principal do comportamento de um veículo de comunicação, a informação e o pilar secundário, o entretenimento.
A informação satisfatória é apresentada com imparcialidade e senso crítico, que representa um questionamento, uma ampla discussão, a expressão de opiniões, a exposição da contradição, uma análise sob todos os ângulos, enfim, não apenas a informação por si só, mas a sua explicação e investigação. Todavia, esta vital função é ignorada pelos meios de comunicação e esta conduta tem origem, principalmente em dois fatos:
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A falta de interesse da população em assuntos como política e a situação dos serviços públicos. Isso ocorre devido a ausência de consciência política e senso de bem comum dos habitantes economicamente periféricos, o que até consiste em um paradigma: “o povo está inconsciente porque não está consciente, ou seja, não é interessante para a mídia, a conscientização da população porque esta não percebe a importância de assuntos que a mídia não quer priorizar.”
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A grande quantidade de capital que os governos destinam às emissoras de televisão e os meios de comunicação em geral, anualmente, o que torna a grande mídia refém das instituições públicas. No Brasil esse fato foi comprovado e ficou notório, quando o governo ameaçou cancelar os contratos de publicidade entre as empresas estatais (Caixa Econômica Federal Petrobrás, etc.) e o SBT, após uma jornalista expressar seguidamente sua opinião a respeito de acontecimentos desfavoráveis aos governistas.
Esses últimos parágrafos trataram apenas do problema da falta de senso crítico dos meios de comunicação, assim como suas causas e consequências. Ainda há outro tema importantíssimo e discutível no que se refere à informação.
Trata-se da prática do jornalismo sensacionalista. É uma prática difundida entre todas as empresas de comunicação no Brasil e consiste na extremamente perigosa fusão entre informação e entretenimento com o objetivo de alcançar maior audiência e visibilidade para a empresa.
Aqui utilizarei um exemplo que fará com que o leitor perceba que a quase totalidade dos noticiários do horário nobre brasileiro compactuam com esta prática.
“Em um determinado hospital público, a situação é caótica. Os leitos que o prédio dispõe não são suficientes, assim como os remédios. Através dos corredores, os pacientes tentam acomodar-se mediante a precária estrutura disponível. Esses fatos são abordados em uma matéria que não hesita em explorar o sofrimento dos pacientes. Em momento algum a reportagem busca investigar as causas da situação da instituição”
Os “jornalistas” não se preocupam em apontar situações muitas vezes óbvias. Ora, o hospital está fracassando em seus objetivos devido a incapacidade de gestão dos seus administradores. Isso não é dito por que os mesmos jornalistas não podem expressar opiniões, na maioria das vezes, por imposição das diretrizes adotadas pelo meio de comunicação a que pertencem.
V
As Mazelas do Entretenimento Midiático
O grande problema do entretenimento midiático é a forma industrial que ele assume e a baixíssima qualidade artística e cultural ocasionada por esse fato, que causa um efeito profundamente nocivo à sociedade contemporânea.
Em tese, o entretenimento midiático deve incidir na difusão da cultura, da arte e do saber racional.
O capitalismo pressupõe a transformação dessas três coisas em bens comercializáveis.
Esse fato é plenamente aceitável até o ponto em que ocorre a industrialização da cultura, da arte e até mesmo do conhecimento.
Isso ocorre quando a indústria fonográfica, as gravadoras musicais, as editoras e todos os outros meios subjacentes à fonografia passam a fabricar artistas tendo em vista o lucro esperado com a sua comercialização, invertendo o processo artístico e cultural onde os artistas é que deveriam utilizar-se dessas entidades a fim de promover sua arte.
Esse processo de fabricação de um artista inicia, por exemplo, quando uma gravadora seleciona um músico principiante ou amador que atenda aos padrões de imagem e beleza pré-estabelecidos pela indústria pop. Normalmente este indivíduo é educado pela mídia de massa, “pré-programado” para atender aos interesses desta indústria.
Entretanto caso haja um mínimo de consciência artística e criatividade em sua mente, ele será educado e convencido conforme a ideologia da gravadora de forma que aceite passivamente toda e qualquer imposição sobre sua atuação, acatando suas obrigações sem questionar os produtores e executivos que enriquecem a custa de músicas medíocres de nenhum valor artístico.
Para legitimar seus “empregados” como artistas, as grandes gravadoras munem-se de meios que controlam automaticamente: os meios de comunicação de massa, televisão, jornais, revistas, grandes portais na internet e até mesmo o cinema, todos de acordo com os ideais mercadológicos regidos pela indústria de consumo da arte.
Estes meios não se dão por satisfeitos antes que anunciem aos quatro cantos do mundo, tudo a respeito das estrelas pop do momento, tornando-os super-conhecidos e garantindo a rentabilidade de seus artisticamente insignificantes trabalhos.
Exemplos que comprovam esses fatos são encontrados aos borbotões, em imensa abundância e são notórios a pessoas esclarecidas. Citarei duas ocorrências recentes em grande evidência na mídia de massa atualmente.
A primeira amostra, na literatura, é muito provável que a maioria das pessoas não tenha conhecimento de que a quase totalidade dos best-sellers da atualidade são, na verdade, fabricados em uma linha de produção de uma grande editora. Esta linha de produção consiste em uma equipe de "produtores literários" que em conjunto, desenvolvem o conteúdo da produção, direcionando-a para um determinado público-alvo. A seguir, um "laranja" é contratado, a quem atribuem a condição de autor e passam a divulgar o livro através do marketing a fim de imputar status de obra literária a um mero produto industrializado, repleto de clichès e situações apelativas.
Este é exatamente o caso de 50 Tons De Cinza. Em tese, só mais um livro baseado em chavões típicos do gênero "exploitation", que aborda de modo sensacionalista a temática que trata. Entretanto, com uma propaganda adequadamente cínica e exagerada, este mero produto ganhou status de matéria literária. Desta forma, elevam-se os faturamentos da editora, mesmo que a real e fidedigna literatura seja violentada através desse processo.
O próximo exemplo a ser analisado é a fabricação de popstars, em especial o mais recente embuste comercial, Nick Minaj.
Citada até mesmo em programas infantis e produzida pela label oportunamente chamada de “Young Money”, Minaj se destaca entre os demais embustes por seu nível intelectual chué, insignificante, expresso nas letras daquilo que os alienados à arte chamam de músicas.
Enfim, este é apenas mais uma amostra da mediocridade que rege a indústria musical que visa a ebriedade cultural do público, lançando mão de qualquer expediente, não importando o quão escuso seja, desde que resulte em êxito comercial.
A mídia de massa sujeitou-se a optar pelo ínfimo nível artístico da música pop, já que a sua cena é um circo nada perigoso para as nefastas pretensões daqueles que a controlam, com a qual vêm contaminando o meio musical e desvirtuando o propósito do meio artístico.