Coluna do Autor
Doutrinação Ideológica no Brasil?
J. Frederic
Doutrinação Ideológica no Brasil?
Há algum tempo atrás, em uma manifestação qualquer, um sujeito foi fotografado levando consigo uma faixa suscitando uma hipotética doutrinação ideológica promovida pelo sistema educacional público brasileiro, de caráter marxista, baseada no método pedagógico do comunista Paulo Freire.
Lembro muito bem que minhas professoras repudiaram o fato, dando a entender que Paulo Freire era uma espécie de messias da pedagogia, um tipo infalível e inexorável dentro do mundo pedagógico.
Então resolvi procurar a respeito do tal pedagogo, seus posicionamentos, por que razão, Freire é o patrono da educação brasileira. Pois bem, analisando sua metodologia, não fui capaz de reter qualquer passagem diretamente pró-comunista, entretanto, me foi possível perceber que o tal messias foi extremamente influenciado pela ideologia gramsciana, o que o levou a desenvolver a velha síndrome esquerdista, a tese de que o capitalismo é maléfico.
Mesmo que Paulo Freire seja um comunista assumido e que tenha transferido para a sua obra várias matizes do pensamento de Antonio Gramsci, sou obrigado a dizer que o método Paulo Freire não é aplicado da forma em que foi concebido, para falar a verdade eu nem sei como este método é aplicado na realidade, por que me parece que o método mais usual no Brasil é aquele baseado nos estímulos positivos e negativos.
Sendo assim, não cabe atribuir a Paulo Freire a causa da suposta doutrinação ideológica e reconheço que o pedagogo em questão possui lá os seus méritos, ainda que seus métodos visem criar uma predisposição contra o capitalismo e isso é um equívoco grave por parte de Freire.
Tempos depois, encontrei em uma rede social, uma discussão a respeito da mesma doutrinação marxista, desta vez chamando a atenção para o conteúdo dos livros didáticos distribuídos pelas escolas públicas brasileiras. Como aluno do ensino médio, fiz a mim mesmo o seguinte questionamento: Existe realmente essa doutrinação marxista? Lembrei de uma de minhas professoras de sociologia dizendo que o comunismo era um modo de produção fadado ao fracasso. Concluí, equivocadamente, que, pelo menos para mim, jamais havia presenciado doutrinação durante minha vida escolar.
Isso ocorreu durante as últimas férias de julho, e depois desse fato, passei a ler a respeito de ideologias, posicionamentos políticos, etc.
Na volta às aulas, peguei o meu livro didático de história (Novo Olhar História, vol. 3) e comecei a lê-lo, alerta para possíveis tendencionismos ideológicos nos textos.
Foi aí que sofri um verdadeiro choque de realidade. Percebi um lote de incoerências em vários tópicos, todas difamando o capitalismo e de certa forma, amparando o comunismo. O que segue é a lista dos conteúdos tendenciosos que encontrei no livro:
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Logo no começo encontram-se vários textos dando a entender que o culpado pelas desigualdades sociais é o capitalismo. Isso segue ocorrendo durante todo o livro até o final.
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O livro estabelece uma divisão da sociedade em burguesia e proletariado de forma grotesca, ignorando vários fatores históricos.
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Há uma demonização dos grandes empresários, taxados de capitalistas opressores.
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Pg.20 – O texto afirma que os EUA anexaram à força territórios durante o século XIX (Alasca, Louisiana, etc), quando na verdade, estes foram comprados.
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Em todo o livro, os textos dão uma importância desproporcional, crédito e razão ao marxismo.
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Praticamente todos os tópicos citam ou abordam o ponto de vista gramsciano e/ou marxista; muitas vezes dá-se razão a ideias equivocadas provenientes do marxismo. Marx é um ser onipresente neste livro, suas opiniões são expostas o tempo todo. A expressão “de acordo com Marx” é utilizada a todo instante.
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Jamais são expostas as contradições e falhas do pensamento marxista. Por outro lado, o capitalismo sempre é associado a movimentos extremistas, de forma tendenciosa e equivocada.
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O livro associa intelectuais e marxistas de forma equivocada, dando a entender que o comunismo é fruto direto do pensamento intelectual e o capitalismo é uma forma de exploração do proletariado.
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Pg. 23 – O livro parece fazer o seguinte paralelo:
Comunismo e anarquismo – defendidos por intelectuais.
Capitalismo e positivismo – acobertados por filósofos de araque defensores da burguesia.
Aliás, enquanto o comunismo e o socialismo são explicados, defendidos e justificados, o capitalismo sequer é explicado. Em nenhum momento o livro cita fatores tangentes ao capitalismo como meritocracia, liberdade e respeito às variáveis sociais. Também não há referência a elementos do comunismo como ateísmo de estado, ausência de liberdades individuais, desvalorização da humanidade, padronização da sociedade, entre outros.
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Pg. 26, exercício 4 – Nesta questão o pensamento marxista (que divide a sociedade em burguesia e proletariado) é tomado como regra.
Exercício 9 – O aluno é coagido a rejeitar o capitalismo (taxado de imperialista) e apoiar o comunismo e/ou o anarquismo (apresentados de forma indevida).
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Balanço da unidade 1: Após ser doutrinado pela unidade 1 o aluno acreditará que:
Comunismo: defende o proletariado, rejeita o imperialismo e o estado opressor.
Capitalismo: racista, etnocentrista, imperialista, defende apenas a burguesia.
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Pg. 72 – O texto defende que o culpado pelas guerras do século XX foram o capitalismo e os americanos com sua “capacidade de criar barcos de guerra como pãezinhos”.
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Pg. 47 – O texto faz novamente um paralelo:
Igualdade = esquerda
Klu Klux Klan = extrema-direita
O livro é definitivamente parcial quando da razão a Marx e suas teorias mais alopradas, como a eterna luta de classes, a burguesia dominante e o proletariado oprimido.
Sempre os mesmos termos pró-marxismo, as teorias capitalistas são apresentadas de forma tendenciosa e há seleção de informações, antagonizando o capitalismo.
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Pg. 69 – “O cinema a serviço da revolução” – Sim, este é o título do texto. Ameniza a doutrinação comunista na URSS afirmando que os filmes comunistas eram “conscientizadores”.
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Pgs. 72, 73 e 95 – Tratam do medo ao comunismo, um suposto preconceito por parte dos americanos contra a esquerda.
Não há sequer um parágrafo no livro a respeito dos gulags soviéticos e da perseguição política inerente ao comunismo.
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Pg. 78 – “O nascimento do fascismo e do nazismo”
O texto afirma que “o racismo e o fascismo estavam presentes no capitalismo há muito tempo”, novamente caluniando o capitalismo.
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Pg. 80 – Ao apresentar os EUA, o texto dá excessiva importância ao consumismo e à propaganda. Liberdade individual? Meritocracia? Não há espaço para imparcialidade em um livro tendencioso como este.
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Pg. 82 – Os USA são taxados de intolerantes.
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Pg. 132 – Entrevista com Apolônio de Carvalho, “herói comunista”
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Pg. 142 – EUA X URSS
Nesta página estão “explicadas” a teoria capitalista e a teoria socialista (note como é evitado o termo comunismo):
“Capitalismo: De acordo com o sistema capitalista, as leis de uma país devem assegurar o direito à propriedade privada dos bens. Dessa forma, os cidadãos que possuem capital acumulado, chamados de capitalistas, podem investir na produção de novos bens e serviços, gerando lucros que aumentam ainda mais o capital acumulado.”
O texto ainda afirma que “o capitalismo procura promover o consumismo, tentando associar a posse de produtos à aquisição de status e de prazer imediato”.
“Socialismo: No sistema socialista, por outro lado, os meios de produção, como as terras e as indústrias, devem ser compartilhados. No socialismo não há propriedade privada de meios de produção , apenas propriedades estatais. Além disso, em todas as atividades, os trabalhadores devem servir à coletividade e ao Estado”.
Um texto complementar afirma que nos países capitalistas há grandes desigualdades sociais. Aham, EUA, Noruega, Alemanha, Suécia são países totalmente desigualitários; O texto afirma ainda que o socialismo na prática não garantiu o fim da desigualdade social porque uma burocracia privilegiada se apoderou do poder político e econômico. Ou seja, se não fossem os burocratas o comunismo seria um sucesso.
É óbvio que essas “explicações” são parciais.
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Pg. 148 – A Revolução Chinesa
Segundo o texto, a revolução comunista na China libertou o país da exploração imperialista do capitalismo, em nenhum momento há menção à fome e aos genocídios promovidos pela China comunista.
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Pg. 150 – A Revolução Cubana
O texto afirma que os revolucionários defendiam a massa miserável contra os americanos imperialistas.
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Pg. 164 – A África no pós-guerra
Há um texto chamado “O socialismo inspira a revolta”. Segundo o texto o socialismo inspirou os africanos a expulsarem os europeus opressores.
Há um parágrafo muito estúpido: “Defendendo uma postura anti-imperialista e anticolonial, a URSS procurava aumentar a influência do socialismo nos países em luta pela independência ou recém-emancipados”. Ou seja, veja só, este texto diz que a URSS repudiava o imperialismo promovendo o SEU imperialismo.
Imperialismo comunista tudo bem, então?
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Pg. 208 – Arte e resistência durante a ditadura
O texto relaciona os movimentos comunistas diretamente aos movimentos artísticos da época, generalizando as manifestações pró-democracia.
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Pg. 210 – As Resistências Armadas
O texto justifica os atos terroristas cometidos durante o governo militar.
Exemplo de uma aula com doutrinação ideológica:
Aqui a doutrinação se dá de forma sutil, mas é possível perceber o tendencionismo.
O que segue é uma lista com as desinformações contidas no vídeo.
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Crise do Capitalismo Liberal? A crise não foi causada pelo capitalismo liberal, foi causada pela super produção de bens e a falta de consumo. Não tem nada a ver com capitalismo liberal.
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O capitalismo liberal é o culpado pelo nazi-fascismo? Não, novamente nada a ver com o capitalismo liberal.
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O Nazi-fascismo é capitalista liberal? Não, ambos seguem o modelo socialista de economia planificada, totalmente oposto ao capitalismo livre. Na verdade o fascismo está muito mais próximo do comunismo.
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O Nazi-fascismo é de direita? Nem de direita, nem de esquerda, são movimentos alheios ao espectro político, mas os esquerdistas desejam associar os nazis à direita.
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O catolicismo rejeitou o comunismo para não perder suas posses? Pode até ser, mas muito mais porque os comunistas perseguiam os religiosos.
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O Nazi-fascismo defende a propriedade privada? Ah, fala sério, este sujeito não disse isso! Os nazis regulamentaram completamente a propriedade privada, puseram os empresários de joelhos, controlaram totalmente os meios de produção exatamente como na URSS, mas isso não é dito.
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Aí põe na conta do capitalismo a WWI, também, como se não bastasse toda a desinformação que esse vídeo promove.
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Por fim, o comunismo não é unipartidário? É claro que é! Quem você acha que os comunistas mandavam para os gulags senão os opositores do partido bolchevique?
Conclusão
Após analisar o componente curricular de história da minha escola concluo que há um tendencionismo sistemático em favor das ideologias defendidas pelo partido que governa o Brasil, o marxismo, o socialismo e o comunismo. É de domínio público que não é diferente no ensino superior. Assim como nas escolas públicas, as faculdades também promovem conteúdos e abordagens tendenciosas. Isso significa que não só a metodologia e os recursos, mas os professores são agentes da "doutrinação ideológica". De minha parte posso afirmar que nenhum de meus professores atuaram de forma indevida até aqui em minha vida escolar, mas percebo que isto não é uma regra. Muitos educadores trabalham para promover e difundir o marxismo nas escolas, exatamente como o professor do vídeo acima.
Indo direto ao ponto, esse panorama não mudará até que a extrema-esquerda seja retirada do poder. Sabemos que uma educação de qualidade e imparcial não é do interesse do governo atual. Somente com uma educação de valor o Brasil finalmente gozará de ordem e progresso.