Coluna do Autor
(Música)
J. Frederic
Sumário
I – A música brasileira contemporânea
II – Arte X Indústria Cultural
III – A cultura que se autodestrói
I
A música brasileira contemporânea
Não poderei iniciar esta análise falando em cultura, já que esse termo não é compreendido pelos leitores. Não são capazes de identificar quando o escritor se refere a cultura-arte ou a cultura-costumes. A educação no Brasil é mesmo ruim.
Por isso, antes de criticar a cultura brasileira contemporânea, criticarei a arte, ou a tentativa de produção de arte ocorrida no Brasil.
É preocupante, posso dizer também que é calamitoso o fato do sertanejo universitário ser o gênero musical mais popular neste país.
O argumento que justifica minha preocupação é absoluto: a música sertaneja é pobre, não indigente e decrépita como o “funk” brasileiro, mas ainda assim é muito pobre.
O sertanejo tem até uma fórmula infalível, uma melodia clichê e repetitiva, muitas vezes copiadas de canções do country estadunidense, cuja estrutura não se diferencia de compositor para compositor, letras extremamente superficiais ou repletas de baboseiras e chavões, seguidas de um refrão muitas vezes estúpido ou infantil (baraberê, tchetchereretchetchê), o que aliado à ignorância do público e uma atenção sensacionalista da mídia, garante o sucesso de cantores medíocres.
Você, acostumado a essa pseudo-música, pode argumentar: “Mas e ‘ob-la-di ob-la-da’, ‘lalala long’, ‘cateretê paiê’? Não são infantis?
Obviamente não, são elementos empregados magistralmente, cantados com intensidade em diferentes escalas por grandes artistas.
Basta comparar:
Djavan: “...entre nobres e caras de pau, sufocados num mesmo ideal; a mercê de um falso alento eu me deito esperando, sorrindo ou xingando...”
Gustavo Lima: “...tchetchereretchetchê tchêrere tchê tchê, Gustavo Lima e você, tchetchereretchetchê tchêrere tchê tchê.”
Agora sim, abordarei a cultura, a nossa cultura-costume que rebaixou a cultura-arte à condição de bem consumível industrializado.
Como já disse em um outro artigo, é perfeitamente aceitável que a arte seja comercializada, mas não fabricada sob o ponto de vista industrial. Em outras palavras, um artista pode comercializar sua arte, mas quando o ele abandona o método artístico e abraça o método industrial já não há mais arte, apenas estará fabricando produtos.
Ao fabricar a música, a indústria cultural criou uma mentalidade equivocada e a injetou no subconsciente coletivo da sociedade contemporânea:
“Os meios de comunicação de massa são absolutos. Passaram a controlar a cultura popular. Tudo o que está em voga ou é produzido pela mídia de massa é bom e moderno, enquanto aquilo que a mídia de massa ignora é retrógrado e não merece existir.”
Ora, atualmente o que está presente na mídia de massa é o que vende, o que não questiona, aquilo que a indústria cultural quer empurrar garganta abaixo da população, o pop, o funk, o sertanejo. Curiosamente, a verdadeira ARTE não está presente em nada disso.
II
Arte X Indústria Cultural
O alemão Friedrich Von Schiller postulou que “a arte é filha da liberdade e deve ser legislada pela necessidade do espírito, não pela carência de matéria. Hoje, porém, a carência impera e curva em seu jugo tirânico a humanidade caída. O proveito é o grande ídolo do tempo, quer ser servido por todas as forças e cultuado por todos os talentos. Nesta balança grosseira, o mérito espiritual da arte não pesa, e ela, roubada de todo estímulo, desaparece no ruidoso mercado do século.”
Essa observação é muito pertinente. Há uma arte ideal, cuja função é atender aos anseios do espírito humano e não aos interesses econômicos.
Álbum “Bara No Seidou”, uma obra de arte.
Nicki Minaj, um mero e lamentável produto da indústria cultural.
Você é capaz de perceber a DIFERENÇA existente entre ARTE e PRODUTO?
III
A cultura que se autodestrói
No artigo anterior eu já havia dito que os meios de comunicação de massa criaram uma mentalidade completamente equivocada e a inseriram no pensamento popular da sociedade moderna.
Esses meios de comunicação de massa possuem um enorme poder de penetração na mente das pessoas, naquilo que alguns sociólogos chamaram de “subconsciente coletivo”. Assim a mídia de massa, posso afirmar categoricamente, controla tudo e todos, afinal 99% das pessoas baseia sua vida e suas opiniões no que é veiculado.
Quase toda a cultura ou pseudo-cultura que as pessoas acessam provém da mídia de massa ou da indústria cultural. Mesmo os artistas legítimos apenas são apreciados após passarem pela pauta dos meios de comunicação.
Isso é muito prejudicial para a civilização moderna porque tendo em vista o processo de massiva industrialização da cultura e das artes, estas, em breve serão padronizadas e controladas pela indústria e se isso ocorrer, não haverá mais arte no mundo ocidental e a cultura perderá o seu valor.
Além da América, em países desenvolvidos do extremo oriente, como Japão e Coréia do Sul, a mídia de massa também dita as regras e caminha a passos largos para o domínio total da cultura local.
Na Europa, a situação é outra: é impossível analisar o continente inteiro porque em cada região há diferentes variáveis que interferem na forma com que as culturas locais se relacionam com a cultura global, mas é possível citar alguns pontos importantes desse relacionamento.
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A mídia de massa é muito forte no Reino Unido, mas em regiões como Escandinávia, Europa Continental e Península Ibérica os meios de comunicação de massa aparentam não possuir tal poder de penetração e não são capazes de criar mentalidades a torto e direito, como ocorre na Grã-Bretanha, na América e no Extremo Oriente.
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Entretanto, a indústria cultural começa a galgar espaço no cotidiano da juventude europeia e pouco a pouco se dá o processo de industrialização dos valores culturais nas regiões citadas.